sexta-feira, 31 de maio de 2019

A História da Pobreza - Debates e Retrocessos recentes nos EUA – por Ravallion (12)


Os avanços alcançados pelos programas gerados pela Guerra à Pobreza americana começam a sofrer fortes golpes a partir do fim dos anos 70. O ponto de virada foi a eleição de Ronald Reagan em 1980, que passou a defender restrições às elegibilidades para os programas, esforços administrativos para cancelar benefícios daqueles elegíveis e redução orçamentária dos programas antipobreza.

Retornaram as críticas de que o estado de bem-estar social era que gerava pobreza, trazendo à lembrança o pensamento do fim do século XVIII, como de Joseph Townsend. Entretanto, diferentemente daqueles tempos de debates sobre a Lei da Pobreza inglesa, nenhuma evidência contra os programas sociais era apresentada, enquanto que havia evidências apontando o contrário.

A recorrente preocupação acerca do desincentivo ao trabalho provocado por esses programas, como o Auxílio a Famílias com Filhos Dependentes (Aid to Families with Dependent Children - AFDC), criado em 1935, que atendia famílias de crianças e adolescentes, passou paradoxalmente, no entanto, a ser encarada como algo desejado. Afinal de contas, as crianças não precisavam trabalhar, pois tinham que estudar, o que poderia ajudar na quebra intergeracional de pobreza, enquanto que as mães poderiam acompanhar o desenvolvimento da primeira infância, caso não necessitassem estar no mercado de trabalho.

Entretanto, nem todos os beneficiários contavam com essa interpretação benevolente acima. Havia acusações de que o estado social produzia pobreza e de que a pobreza seria menor sem transferência de benefícios para esses grupos, pois assim as pessoas se poriam a trabalhar para gerar a sua renda. À exceção do Crédito Fiscal por Remuneração Recebida (Earned Income Tax Credit - EITC), que continha uma taxa marginal de impostos muito abaixo de 100% - ou seja, matinha incentivos para os beneficiários buscarem renda extra pelo trabalho –, os demais desenhos de programas americanos apresentavam altas taxas marginais de impostos, o que dava margem à crítica recorrente de “efeito preguiça” causado por esses programas.

Apesar dos cortes orçamentários e as permanentes críticas de desincentivo ao trabalho, os programas elaborados pela Guerra à Pobreza americana tiveram longa vida, até a grande mudança promovida pelo presidente Bill Clinton em agosto de 1996 com a Lei de Responsabilidade Pessoal e Reconciliação da Oportunidade de Trabalho (Personal Responsibility and Work Opportunity Reconciliation Act). O AFDC foi substituído pelo Assistência Temporária às Famílias Necessitadas (Temporary Assistence for Needy families -TANF), o qual limitava assistência a 5 anos durante o tempo de vida e obrigava os beneficiários a trabalhar em 2 anos.

De novo, como fora o debate da nova Lei dos Pobres em 1830, a exigência de trabalho para os beneficiários de programas assistenciais retornava à tona. Não obstante fosse menos draconiana que as Casas de Trabalho, o raciocínio permanecia o mesmo: incentivar o comportamento dos pobres para o trabalho. Eufemisticamente, defendiam-se os ganhos com experiência de trabalho, as virtudes morais do trabalho e os benefícios para a comunidade local. Todavia, o desejo subliminar era de expulsar as pessoas do estado de bem-estar social.

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